segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Palavras - Já Não Se Conseguem Ouvir

As Acções Falam Tão Alto Que As Palavras, Essas, Já Não As Escuto.

Os políticos dos dias de hoje - os Obamas, Sarkozys, Berlusconis e Sócrates do mundo - são políticos na verdadeira acepção da palavra. São políticos profissionais, que apostam numa imagem impecável, numa máquina de marketing e aparelho de campanhã geridos de uma forma verdadeiramente profissional e financiados por todo o género de lobbies e grupos de interesse.

Desde o facto dos políticos terem profissionais que escrevem os discursos por eles, que têm todos os assessores de comunicação e imagem possíveis e imagináveis, e que substituiem a sua espontaneidade pela segurança do tele-ponto.

Infelizmente, a maior parte das pessoas - não só na política - faz julgamentos superficiais, e muito menos vezes do que devia, faz pouco juízo crítico das palavras.

Não tenho problemas, pois em afirmar, que os conceitos de Democracia e Liberdade estão feridos de morte.

Bem... o propósito desta entrada era enumerar e desmistificar uma série de palavras e argumentos recorrentes de políticos de carreira. Sem mais demoras, aqui vai a lista (podem aproveita-la para jogar Bingo político):

  • Esta 0bra/investimento/intervenção não vai custar um tostão aos contribuintes - se não custa, não é precisa a intervenção pública, ponto final. Na variante em que até dará lucro, dêm espaço à iniciativa privada - mais uma vez, não é necessária a intervenção pública.
  • A culpa é do(s) governo(s) anterior(es) - esta é boa, porque tudo o que existe de mau é atribuído aos governos predecessores, enquanto que tudo o que é bom, obviamente é creditado ao governo actual.
  • A culpa é da crise/conjuntura internacional - o mesmo que o anterior. Mau = crise/conjuntura internacional. Bom = governo actual.
  • Isto é a prova de que as nossas políticas estão a resultar - ainda mais uma variação do tema anterior. Mau = outros, Bom = nós.
  • Os outros paises estão igual/piores - aqui para comparação pega-se nos piores exemplos, nunca nos melhores.
  • Fizemos o que era o melhor para país - traduzido dá: "fizemos o que NÓS, um pequeníssmo número de pessoas com muito poder, achamos que era melhor"
  • Ninguém imaginava / Era impossível de prever - claro que ninguém consegue prever o futuro, mas a gestão de risco faz parte do nosso dia-a-dia. Acontecimentos improváveis - bons ou maus - irão acontecer sempre, e ninguém se queixa dos bons! Em relação à crise internacional (a que esta frase mais se aplica) é falso. Houve pessoas, como Peter Schiff que preveram a crise com grande detalhe - até escreveu um livro em 2006 que descrevia exactamente como a crise se iria desenrolar. Isto revela também um problema crónico dos políticos. Por um lado, julgam-se especialmente dotados/abençoados/escolhidos para governar, por outro lado são os optimistas crónicos. O optimismo é bom em doses moderadas, mas é mais importante o realismo.
  • Não havia outra alternativa/escolha possível - claro que há, existe sempre escolha e existe sempre alternativa. Aqui é a busca do conforto mental, e da solidariedade popular.
  • Se nada se fizesse, teríamos caído/caminhado no abismo/catástrofe - como é que os políticos podem afirmar isto? Têm acesso por acaso a uma bola de cristal? Claro que é muito fácil pintar um cenário hipotético (que nunca é possível de testar na realidaed) como muito negro, para justificar qualquer escolha dos políticos.
  • O estudo/parecer suporta esta a decisão - é sempre possível arranjar (ou encomendar) um estudo para suportar qualquer decisão, portanto há que reconhecer que as decisões são políticas. Existe um certo conforto para os políticos e para a população saber que existem tais estudos... mas para todos os efeitos é como se não existissem. Basta fazer uma pequeníssima variação ao pressuposto qualquer (que é em que os estudos se baseiam) que praticamente todos os resultados podem ser encontrados. A juntar a isto, existe um conflito de interesse claro em quem faz o estudo e quem o adjudica. Se quem faz o estudo vem com resultados contrários ao esperado, pode-se sempre fazer um estudo com outra entidade.
  • A oposição é sempre do contra / A comunicação social é uma bota-abaixo/ São vozes derrotistas e retrógradas ou a minha preferida Quem está contra nós é anti-patriota! Claro, Nós=Bons, Quem está contra nós = Maus. Os políticos esquecem-se que o mais importante em democracia é escutar e reconhecer o direito à diferença. É importante ter também a humildade para reconhecer que há outros pontos de vista, diferentes dos nossos, mas igualmente válidos. Estas frases são as chamadas "killer phrases" usadas quando não se quer debater ideias com ideias, ou apresentar argumentos válidos que contestem as nossas ideias. Estas frases são uma humilhação para a democracia.
  • Os nossos valores/princípios/causas/modo de vida são os correctos/justos [nas entrelinhas: temos a obrigação moral de os impôr as outros] - esta é desde que a Humanidade existe, a principal desculpa para se iniciarem todo o género de guerras e atrocidades. Basta fazer um pequeníssimo exercício mental para se aperceber que o suposto inimigo/adversário/oponente pensa exactamente da mesma maneira, afinal somos todos humanos.
E pronto, aqui está. Nem sequer aflorei a parte das inúmeras super-promessas que todos os políticos fazem em campanha eleitoral. Sempre me interroguei e admirei da memória curtíssima dos eleitores.

Menos Governo, Melhor Governo!!!

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