quinta-feira, 26 de março de 2009

'Peak Oil' - O Maior Desafio De Sempre Da Humanidade

O 'Peak Oil' é o maior desafio de sempre da Humanidade. É também o tópico mais sério, menos falado e menos debatido na comunicação social e pelos governos do mundo inteiro.

O que é o 'Peak Oil'?

O 'Peak Oil' é um evento (que só será visível em retrospectiva) a partir do qual o a produção de petróleo a nível mundial irá começar a declinar. Isto não é uma teoria, é um facto assente nas leis da física e da matemática. As únicas questões em aberto são: 1) quando ocorrerá e 2) quão severo será o seu impacto na humanidade.

As perspectivas mais optimistas apontam para a ocorrência do 'Peak Oil' em 2025 enquanto que as mais pessimistas apontam parra 2007 (isto é, já ocorreu)[1].

O 'Peak Oil' irá ser agravado pelo facto de a procura continuar a aumentar enquanto a produção entra em declínio, o que fará disparar os preços do petróleo para valores na ordem das centenas de dólares. Ao mesmo tempo, o petróleo será cada vez mais difícil (entenda-se mais caro) de extrair e será cada vez de menor qualidade.

Porque é que é grave?

O crescimento da população e desenvolvimento económico do século XX só foi possível graças a uma fonte energética barata e abundante. 1 barril de petróleo equivale ao trabalho produzido por um ser humano durante 23.200 horas [2], ou seja 2.900 dias de trabalho com 8 horas por dia! A humanidade depende do petróleo em todo o seu estilo de vida, desde transportes, iluminação, agricultura, indústria, alimentação e medicamentos. Simplesmente, não é possível sustentar o mundo civilizado como o conhecemos assim como a população global sem uma fonte abundante e barata de energia.

O mundo consumia em 1980 cerca de 63 milhões de barris de petróleo por dia e em 2007 cerca de 85 milhões, um aumento de cerca de 35 % ao longo de 27 anos [3][4]. Desses 85 milhões de barris de petróleo, 20 milhões são consumidos pelos Estados Unidos e 14 milhões são consumidos pela União Europeia [3].

O 'Hirsch Report'

O Departamento de Americano de Energia encomendou em 2005 um estudo a Robert Hirsch. As conclusões do relatório foram as seguintes [1]:
  • O 'Peak Oil' vai acontecer, e é provável que seja abrupto
  • O 'Peak Oil' vai afectar adversamente as economias globais particularmente aquelas mais dependentes do petróleo
  • O 'Peak Oil' constitui um desafio único ("será abrupto e revolucionário")
  • O problema são os combustíveis líquidos (crescimento da procura principalmente no sector dos transportes)
  • Os esforços para endereçar o 'Peak Oil' requerem uma quantidade de tempo substancial: 1) são necessários 20 anos para se fazer uma transição sem impactos substânciais; 2) uma transição apressada de 10 anos com impactos moderados é possível com esforços extraórdinários por parte dos governos, indústrias e consumidores; 3) uma endereçamento tardio do 'Peak Oil' pode resultar em consequências muito graves.
  • Tanto a procura como oferta requerem atenção
  • Trata-se de uma questão de gestão de risco (acções de mitigação tem que ocorrer antes do pico)
  • Intervenção governamental será necessária
  • Perturbações económicas não são inevitáveis, se endereçado com a antecedência necessária, os problemas são passíveis de resolução com tecnologia existente
  • Mais informação é necessária para determinar com precisão a ocorrência temporal do pico
Mas Não Há Alternativas?

Para ser bem claro - o petróleo tem qualidades técnicas e económicas únicas. Neste momento não existe nenhuma alternativa tecnicamente e economicamente viável para substituir o petróleo:
  • O carvão é altamente poluente, e também finito. Ainda que digam que existe carvão para 200 anos, cada vez será mais caro extraí-lo e será cada vez de menor qualidade. Além disso pode ser insustentável para o ambiente uma vez que contribui gravemente para o aquecimento central.
  • O hidrogénio não é uma fonte de energia, é apenas um contentor, e precisa de energia para ser produzido (a partir da electrólise da àgua por exemplo). Além disso, as 'fuel cells' requerem platina, que é um metal precioso e escasso.
  • Os biocombustíveis demoram muito tempo e requerem muito dinheiro para serem cultivados e processados, e competem directamente com a produção de comida num planeta que tem que sustentar mais de 6 mil milhões de pessoas.
  • Energia núclear - apenas possível se for possível re-utilizar o Urânio uma vez que o Urânio é um elemento raro e também sujeito ao efeito de pico 'Uranium Peak'. Aparentemente os reactores nucleares de quarta geração consomem menos Urânio e podem reaproveitar o Urânio processado.
As únicas alternativas de facto, uma vez que são verdadeiramente renováveis e com a vantagem de serem pouco poluentes são a energia hídrica, solar e eólica. No entanto estas três fontes não armazenam energia directamente (como os combustíveis líquidos). Poderão no entanto ser usadas para carregar baterias ou até gerar hidrogénio. A energia solar e eólica são ainda bastante caras. No caso da energia solar, a eficiência das células foto-voltáicas produzidas em massa hoje em dia ronda apenas os 20%.

O Que Deve Ser Feito

De forma muito imediata:
  • O problema e desafio do 'Peak Oil' deve ser levantado, comunicado e debatido abertamente pela comunicação social, pelos governos e pela comunidade científica.
  • Deve-se aumentar a eficiência energética de maneira global (transportes, rede electrica, indústria).
  • Deve-se investir em grande escala na investigação de energias alternativas renováveis, designadamente solar e eólica, e ao mesmo tempo em tecnologias de armazenamento de energia (baterias)
O 'Peak Oil' e de longe o maior desafio de sempre para a humanidade. Cabe nos a nós estar à altura, planeando e preparando a resposta com a máxima antecedência possível.

Para mais informações, sugiro os seguintes links:
Referências:
[1] Hirsch Report (Wikipedia)
[2] Life After The Oil Crash
[3] CIA - World FactBook Oil Consumption
[4] World Petroleum Consumption 1980-2006, Energy Information Administration

Nenhum comentário:

Postar um comentário