sexta-feira, 6 de março de 2009

Banco Central Europeu Baixa Taxas de Juro

O Banco Central Europeu anunciou ontém (05 de Março de 2009) a descida da taxas de juro para 1,5%. Isto é bom ou mau?

Aparentemente esta notícia é boa, mas já dizia o livro 'Economics In One Lesson' de Henry Hazlitt que a verdadeira ciência e sabedoria da Economia consiste em não só perceber os efeitos a curto prazo de uma medida num grupo pequeno da população, mas sim em entender os efeitos a longo prazo para toda a população.

De uma forma geral é aceite que a crise económica e financeira actual foi causada pelo crédito barato, que desencadeou todo o género de excessos (endividamento, alavancagem, riscos) e que levou à criação e rebentamento da bolha imobiliária norte americana. Se na realidade, essa é a origem do problema, vai-se agora tentar resolver o mesmo problema com uma dose maior da causa!

À luz da teoria da Escola Austríaca estamos a viver um período de "price discovery" que é dominado pela incerteza, incerteza essa que leva à estagnação da economia. Para os preços se ajustarem aos seus valores reais é preciso deixar que a recessão siga o seu curso normal. Uma vez os preços ajustados, os agentes económicos poderão tomar decisões baseados em informações precisas.

O dinheiro é ele próprio um bem sujeito à lei da oferta e procura. O preço do dinheiro é determinado pela taxa de juro. O governo ao interferir na fixação da taxa de juro e na quantidade de moeda em circulação distorce completamente o mercado.

Esta medida - popular bem certo, que é tão do agrado dos governos - aparentemente beneficia as empresas e indivíduos (que têm crédito mais barato).

Vejamos no entanto a verdadeira profundidade e extensão desta medida:
  • O endividamento será estimulado e a poupança desencorajada devido à taxa de juro artificalmente baixa. A poupança representa riqueza que foi gerada, mas cujo troca (consumo) foi adiada para o futuro em troca de uma remuneração (taxa de juro). São as poupanças que são aplicadas em "capital goods" que servem para aumentar a capacidade de produção no futuro.
  • Serão feitos maus investimentos e os bons serão prejudicados. Há projectos que só são viáveis devido às taxas de juro artificialmente baixas. Empréstimos e projectos que hoje seriam viáveis (por exemplo: compra de casa), havendo um aumento da taxa de juro mais tarde deixarão de o ser. Estes maus investimentos irão competir por recursos (que são limitados e escassos) com os bons investimentos. Isto leva a que os bons investimentos tenham de dispender mais capital para assegurar os recursos que precisam, e entretanto, há recursos mal aplicados em maus investimentos.
  • A inflacção irá aumentar. Uma vez que se pode fixar o preço ou a quantidade de dinheiro mas não as duas, o banco central europeu terá que injectar quantidades maciças de dinheiro para suportar a taxa de juro tão baixa, o que irá causar um aumento da inflacção. Esta medida retira valor a todas as pessoas que têm bens e serviços (por exemplo: contas bancárias e salários) cotados em euros, que ficam efectivamente mais pobres.
Veja-se o caso do Japão, que está em recessão/"stagflation" desde 1989 e que tem taxas de juro virtualmente zero há mais de uma década. As taxas de juro zero não serviram para ajudar o Japão. Porque é que se acredita que vão servir para ajudar os Estados Unidos e a Europa?

Qual é a solução?

De acordo com a Escola Austríaca:
  1. Deve se permitir à recessão seguir o seu curso normal e os preços ajustarem. Os governos com as suas intervenções sucessivas só vão conseguir tornar o problema mais longo, mais profundo, e empobrecer os seus cidadãos no processo.
  2. Os governos não devem ter o poder de influenciar quer a taxa de juro, quer a quantidade de moeda em circulação. A taxa de juro deve fluir livremente de acordo com as leis da oferta e procura, entre os depositantes, instituições de crédito e credores.
  3. As moedas devem deixar de ser "dinheiro de faz-de-conta" e devem ter uma equivalência directa em ouro ou prata. As notas em circulação apenas têm valor porque os governos assim o legislam. Hoje em dia nada impede os governos (através dos bancos centrais) de emitirem tanta moeda quanto o desejarem - basta ligar a impressora!

2 comentários:

  1. Ao autor, e demais interessados, e num espírito de abertura de âmbito de pensamento, recomendo a leitura dos seguintes artigos que denunciam algumas das falácias da escola autríaca:
    http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1024311&rec=1&srcabs=921183
    http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=921183
    Boa leitura!

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  2. Nenhuma forma de pensamento é perfeita, mas de todas a escola austriaca é, com certeza, a mais realista. Aliás, foi a única que consegui previr (e explicar) a catastrofe que se anunciava. A procissão ainda vai no adro, espere por 2010 e vai ver o que significa a palavra recessão. Tudo por causa de dinheiro fraco - dinheiro que é criado a partir do ar. E se os governos continuarem a apagar fogos com esse dinheiro fraco, esteja atendo aos resultados. Hoje em dia os governos não podem, não sabem, our não querem prevenir o aparecimento de incêndios. Como o dinheiro é fácil de criar, sabem que o dinheiro aparecer quando há fogos. Dai, quando há um problema, não faz mal, toma lá mais uns milhões (ou melhor bilhões, qualquer dia passamos a trilhões e pelo andar da carruagem acho que vamos chegar aos quadrilhões). É o principio do fim do sistema como o conhecemos. Reset...

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