segunda-feira, 23 de março de 2009

Mitos E Verdades Sobre a Inflacção

“Através de um processo de inflacção contínua, o governo pode confiscar de uma maneira secreta e sem ser observado, uma parte importante da riqueza dos seus cidadãos.”

Quem disse essa frase, foi nem mais nem menos do que John Maynard Keynes, esse famoso economista, defensor de um governo intervencionista e que hoje é adoptado de maneira religiosa por quase todos os governos.

A inflação é sentida pelos cidadãos como uma perda do valor do dinheiro, que se traduz num menor poder de compra. Existem vários mitos sobre a inflacção, nomeadamente:
  • A inflacção resulta do crescimento económico
  • Um valor pequeno de inflacção é saudável!
  • A deflação é má (como se o ganho de poder de compra correspondente alguma vez pudesse ser mau!)
A inflacção tem vários aspectos muito negativos:
  • retira valor a todos os rendimentos e activos denominados em moeda, tais como salários, pensões, rendas e contas bancárias. 1000 euros com uma inflacção anual de 3% valem apenas 744 euros ao fim de 10 anos!
  • desencoraja a poupança e estimula o investimento especulativo em vários tipos de activos de risco de maneira para preservar o valor dos bens adquiridos (por exemplo: investimentos em imobiliário e bolsa).
  • distorce o cálculo da rentabilidade dos investimentos, que passam a ter que contar com um efeito de inflacção variável.

Os governos têm muito a ganhar com um valor de ‘inflacção real’ alto:
  • Os governos emitem moeda para financiar os seus programas e os seus défices (mais tarde veremos que é o aumento da moeda em circulação que causa a inflacção). A propósito – de onde vêm os anunciados 5 mil milhões de euros da união europeia [1]?
  • Como os governos são geralmente deficitários, quanto maior a inflacção, menor o valor real da dívida (1000 euros de dívida contraída há 10 anos valem bem menos do que 1000 euros hoje).
Ao mesmo tempo, os governos têm todo o interesse em que o valor da ‘inflacção oficial’ seja o mais baixo possível, porque:
  • O estado têm compromissos que são afectados pelo valor da inflacção, designadamente pensões e salários.
  • Valores baixos de inflacção são politicamente desejáveis.
  • O valor do PIB (Produto Interno Bruto) real é corrigido pela inflacção, pelo que quanto menor for a inflacção, maior será o PIB real. Um PIB alto, é também politicamente desejável.

O exemplo de maior distorção no cálculo e comunicação oficial da inflacção e do PIB vem dos Estados Unidos. A distorção tem vindo a crescer tanto nas sucessivas administrações que os únicos valores aproximadamente reais só podem ser encontradas através de uma organização não governamental, a Shadow Stats.

Para se ter uma ideia dos efeitos devastadores da inflacção, uma onça de ouro que foi definido como valendo 35 dólares no acordo de Bretton Woods em 1944, vale hoje mais de 900 dólares! Isto é que é desvalorização da moeda!!!

A definição da escola austríaca da inflacção é o aumento da moeda circulação. O dinheiro é ele próprio um bem sujeito à lei da oferta e da procura cujo preço é a taxa de juro. Logo, havendo mais dinheiro em circulação o seu valor será menor. Se o governo duplicasse o total de moeda em circulação, os preços iriam tender para o dobro!

Que outra razão existe para os preços aumentarem? Numa economia saudável, a produtividade tende a aumentar e logo os preços seriam reduzidos, que é o que se verifica por exemplo com os computadores e telemóveis. Ainda que o preço de um bem invidualmente aumentasse, como o rendimento disponível seria constante, a sua procura seria reduzida e em termos agregados não se verificaria um aumento dos preços, logo não haveria inflacção.

Existe ainda um outro problema com o aumento da masssa monetária. É que este aumento não se faz de forma homogénea por todos os agentes económicos. Quem tende a beneficiar da inflacção são os agentes onde o dinheiro chega primeiro, geralmente os bancos e as grandes empresas. Quem sofre mais com a inflacção são as classes médias e baixas, que sentem os efeitos da inflação primeiro sem um aumento dos seus rendimentos.

Acerca da inflacção, recomendo também o capítulo 'Inflation' do Crash Course de Chris Martenson.

[1] Sócrates considera justa a repartição dos 5 mil milhões entre os 27 (Jornal OJE, 20/Março/2009)

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